12.3.09

Pluralismo religioso

Estava revirando algumas revistas – reciclando – e achei uma antiga (“pero no mucho”) VEJA, de 7 de fev de 2007, na qual o tema é “A força da fé”. Folheando-a li uma entrevista com um biólogo, David Sloan Wilson, que quando questionado se praticava alguma religião, ele respondeu: “Sou ateu, mas um bom ateu. Como os fiéis, também quero paz e um mundo melhor”.


Sem relevar a nacionalidade – americana – do mesmo, fiquei pensativa... achei interessante (adjetivo esse por não saber como classificar melhor) a postura dele como cientista, lembrei de uma frase que li em uma “palavras-cruzadas”, que já não lembro o autor: “Aquilo de que estamos mais certos, nunca o são realmente. Essa é a fatalidade da fé e a lição da ficção”. Gosto das religiões como um todo, sem grandes vínculos. Sou batizada e crismada (catolicismo). Tenho grande encantamento pelo espiritismo e pelo budismo como formas de ver e viver a vida. Interesso-me pelas variâncias do cristianismo e protestantismo (sem desmerecimento).


Porém, veio a indignação. Que valores, religiões, crenças, culturas, são esses, que não “nos” fazem pensar sobre a existencialidade, a espiritualidade e tudo o que tais conceitos significam?

“Não mate!”, “Não roube!”, “Não desrespeite seus irmãos! Se o fizer, arrependa-se! Só assim há o perdão!”, “Não use drogas! Deus está vendo!” (“Deus” aqui simboliza qualquer entidade superior)... Alguém, muito em tese, não agiria de determinada maneira por medo, pressão, ou vigilância alheia?

Já não sei quantas, nem quais, são as religiões que baseiam-se assim, mas sei que eu, intimamente, acredito em Deus. Simples assim. Sem interlocutores ou intervenções. Creio também no valor da fé. E, o mais difícil de todos, eu confio nos homens. Mesmo com tantos seres que não deveriam nem intitular-se “humanos”!!!


Apesar de pensar que um cético vive pior do que um pessimista, não acho que isso deva ser olhado como ruim, como alguém que faria mal aos outros por não “crer”, além dele mesmo. Conheço vários ateus e arrisco-me a dizer que quase todos, além de inteligentes, são boas pessoas.


Sinto que não é “Deus que falta no coração das pessoas”, contudo qualquer definição clara e objetiva será extremamente falha. Várias religiões, em todos os tempos, cumprem, ou melhor, tentar cumprir, com as obrigações que são de responsabilidade dos pais, da família.

Como mãe, que um dia serei, não quero que meus filhos formem seu caráter pautados em regras e interpretações de outras pessoas e instituições. Ainda assim, não sou contrária a idéia de que optem pela adoção/devoção de uma religião. Só desejo que eles cresçam compreendendo, claramente, os ideais como honestidade, lealdade, solidariedade, igualdade, amabilidade, assumindo-os como premissas de caráter - por vontade própria!!!

Um comentário:

Unknown disse...

Acho que está havendo uma confusão de ideias, entre religião e cidadania. Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à prosperidade, à igualdade perante a lei, e aí vale a lei dos homens e a lei de Deus é, em resumo, ter direitos. Podemos nos estender com continuação à vida, como salários justos, à saúde, a velhice tranquila.
Os ideais como honestidade, lealdade, solidariedade, igualdade, amabilidade, como premissas de caráter, faz parte da cidadania e nada tem com fé ou com Deus, claro que isso pode reforçar o espirito de nosso comportamento.
Encontramos muitas referências a batalhas travadas entre grupos, para defender seu deus, o verdadeiro e mais poderoso, segundo os membros desses grupos.
Até aí, nada de verdadeiramente novo. Antes e depois, muitos povos desfraldaram seus deuses guerreiros e creditaram parte dos méritos de seus soldados à atuação de seu deus dos exércitos. Podemos lembrar a expansão mulçumana como também as das cruzadas. Estariam certos? Verdadeiras carnificinas em prol de uma religião.
Ahad Haam acreditava na especificidade da missão baseada em profunda espiritualidade. A idéia do Deus que não apenas conduz os exércitos, como também exige um determinado comportamento, aquele que pune os homens não pela falta de cumprimento de rituais, mas por atitudes não piedosas para com o seu semelhante, quem desenvolveu ...?
Então, quase de repente, alguns profetas alcançaram a dimensão de verdadeiros criadores, concebendo uma nova forma de pensar o mundo, a divindade e, mais do que isso, a relação entre pessoas.
Claro que cito raciocínio tirado da história, sem datas, locais e protagonistas, se é que posso utilizar esse termo, designando esses pensadores, profetas e lideres de tribos e povos.
Entendo que cada um acredite em Deus, qualquer que seja sua forma de concebê-lo. Faz nos sentirmos fortes, reforça nossa fé em nós mesmos e nos faz integrar numa sociedade que achamos mais justa, mais bondosa e claro, numa cidadania plena.
Claro que esse conceito, não é um conceito estanque, mas um conceito histórico e que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço. Se posicionar perante tais indagações, podem trazer discussões acaloradas e nem sempre conclusivas, prefiro me integrar à sociedade e ter meus ritos alimentando meu espírito e fortalecendo minhas visões.
Bjsss, fica com Deus